Popularidade de Francisco diminuiu entre católicos latinos, e apoio a mulheres na Igreja subiu

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Popularidade de Francisco diminuiu entre católicos latinos, e apoio a mulheres na Igreja subiu


Pesquisa da Pew Research feita em 2024, perto do fim do pontificado de Francisco, mostra queda na aprovação do papa em 10 anos. Discussão sobre ordenação de mulheres sacerdotisas teve apoio crescente entre os fiéis. Popularidade de Francisco diminuiu entre católicos latinos
A morte do papa Francisco na última segunda-feira (21) encerrou um papado de mais de 12 anos. Sua liderança foi marcada por declarações sobre temas considerados polêmicos pela Igreja, como a presença de mulheres em cargos administrativos, o celibato de padres e o uso de métodos contraceptivos.
Na América Latina, região de onde veio e onde foi recebido com entusiasmo no início de seu pontificado, o apoio a esses temas variou. Mas a popularidade do papa Francisco mostrava sinais de derretimento em 2024 entre seus fiéis, mesmo sendo aprovado pela maioria dos católicos latinos.
Papa Francisco acena a fiéis na Praça de São Pedro, no Vaticano, em foto de 21 de outubro de 2015
Alessandro Bianchi/Reuters
É o que mostram levantamentos realizados pelo Pew Research Center, uma organização independente de pesquisa sediada em Washington (EUA), na Argentina, Colômbia, Brasil, México, Peru e Chile, países cujas populações católicas estão entre as 25 maiores do mundo. As pesquisas foram realizadas em 2013–2014 e em 2024.
Na Argentina, seu país natal, a queda de popularidade foi a maior entre os países pesquisados. Há dez anos, quase todos os católicos entrevistados no país (98%) tinham uma opinião favorável sobre Francisco, contra 74% no último levantamento.
No Brasil, esse número foi de 92% em 2014 para 84% em 2024.

Diante da maior religião do mundo, Francisco enfrentava dois grandes desafios para o catolicismo: a perda de influência da Igreja sobre diversas esferas da sociedade e, no caso do Brasil, o avanço das igrejas evangélicas.
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Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2000, os católicos representavam 74% da população brasileira. Dez anos depois, esse número caiu para 65%.
Já os cristãos de vertentes evangélicas avançaram de 15% para 22% entre 2000 e 2010. Um retrato mais atual sobre o número de fiéis no país deve ser divulgado em breve, com a divulgação dos resultados do Censo 2022.
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Cenário global radicalizado
Para o teólogo e diretor de programas do Instituto de Estudos da Religião (ISER), Ronilso Pacheco, a queda na popularidade do Papa Francisco pode estar relacionada ao cenário global mais radical, polarizado e conservador.
"Francisco enfrentou um período, sem dúvida, muito mais radicalizado do que o Ratzinger [papa Bento XVI] enfrentou e do que o João Paulo II enfrentou", afirma.
Segundo Pacheco, o avanço de lideranças conservadoras em diversos países e a influência crescente das redes sociais, que intensificariam a circulação de discursos polarizados, podem ter contribuído para o desgaste da imagem de um papa conhecido pelo carisma e pela abertura ao diálogo.
"Vai havendo um certo desgaste, uma coisa meio ambígua de alguém que é muito carismático e generoso. Mas tem uma cobrança de uma Igreja que precisa ser mais forte, que precisa avançar, que precisa conquistar e consolidar os seus fiéis e os seus valores", avalia.
No Brasil, a perda de influência política da Igreja Católica também ajuda a explicar a queda de popularidade de Francisco, segundo Pacheco.
"A Igreja perde muito espaço no Brasil. Tem a hegemonia cultural, sem dúvida, mas politicamente perde espaço. A cultura continua na mão da Igreja Católica, mas a influência política, a incidência política dos evangélicos é significativamente maior", diz.
Mulheres padres
Entre os temas abordados por Francisco durante seu pontificado, um recebeu crescente apoio entre os fiéis nos últimos anos: o aumento do papel das mulheres na Igreja e a discussão sobre a ordenação de mulheres como sacerdotisas.
Os números indicam que o apoio a essa questão cresceu entre os católicos latinos na última década, especialmente na Argentina e no México. Na Argentina, o apoio passou de 51% em 2013-14 para 71% em 2024, enquanto no México aumentou de 31% para 47% no mesmo período.
No Brasil, o apoio a mulheres sacerdotisas era 78% em 2014 e foi para 83% em 2024.

Apesar do aumento no apoio, a ordenação de mulheres ainda encontra resistência na própria Igreja, inclusive por parte de Francisco. Para Pacheco, o papa trouxe avanços à religião ao incluir mais mulheres em cargos de liderança no Vaticano, mas foi criticado por avançar menos do que o esperado no assunto.
“[Ele é o] papa que mais colocou mulheres, por exemplo, nos serviços do Vaticano, em cargos de liderança. Mas, publicamente, por diversas vezes, ele já se colocou contrário à ideia de mulheres sacerdotes”, afirma.
Durante seu papado, Francisco promoveu mulheres a cargos de liderança no Vaticano e concedeu direito a voto no Sínodo dos Bispos — reunião global em que são debatidos regimentos internos da Igreja e questões ideológicas.
Uso de contraceptivos
A maioria dos católicos nos sete países pesquisados defende que a Igreja permita o uso de métodos contraceptivos, com percentuais variando de 86% na Argentina a 63% no Brasil, segundo a última pesquisa divulgada.
Apesar do apoio, a discussão sobre o tema não avançou na última década. As opiniões sobre o uso de contraceptivos entre os católicos permaneceram estáveis na maioria dos países, com exceção do Peru e do Brasil.
No Peru, o apoio aumentou significativamente, de 63% para 75%, enquanto no Brasil, o apoio caiu de 75% para 63%.

Em uma conversa com jornalistas no avião que os levava do México para a Itália, em 2016, o papa mencionou a possibilidade de se usar métodos contraceptivos "como um mal menor" pelo risco que o vírus da zika impõe sobre as grávidas.
Francisco deixou aberta a possibilidade de usar esses métodos ao lembrar que o papa "Paulo VI em uma situação difícil na África (a guerra no Congo belga) permitiu que as freiras usassem anticoncepcionais para casos nos quais foram violentadas".
O papa opinou que o "aborto não é uma questão qualquer, é um crime" e que "evitar a gravidez não é um mal absoluto".
Celibato
Papa Francisco fala em rever o celibato dos padres
A opinião sobre se a Igreja deveria permitir que padres se casassem é mais dividida entre os católicos.
Cerca de dois terços dos católicos na Argentina, no Chile e nos EUA são favoráveis, enquanto maiorias no México e no Peru dizem que a Igreja não deveria permitir o casamento de padres, segundo a última pesquisa. Essa opinião se manteve relativamente estável ao longo do tempo nos países pesquisados.
Em 2014, 58% dos católicos eram a favor do casamento de padres, em 2024 esse número passou para 50%.
Em entrevista a um site argentino, em 2023, Francisco disse que o celibato dos padres é uma medida temporária e que poderia ser revista. "Não há contradição em um padre se casar. O celibato na igreja ocidental é uma prescrição temporária. Não é eterno como a ordenação sacerdotal, que é para sempre", disse.




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